O acto de cuidar em pediatria foi-se modificando, ao longo dos tempos, com maior destaque na hospitalização, em que o internamento da criança deve ser o último recurso, como referem os direitos da criança hospitalizada, que mencionam, no seu primeiro parágrafo, que “só deve ter lugar quando os cuidados necessários à sua doença não podem ser prestados em casa, em consulta externa ou em hospital de dia”. ainda no seu segundo parágrafo, referem que uma “criança hospitalizada tem direito a ter os pais presentes ou os seus substitutos” (carta dos direitos da criança hospitalizada).
Enfermeira Maria Joaquina Oliveira
Enfermeira Coordenadora do Serviço de
Pediatria do Luanda Medical Center
N o acto de cuidar em pediatria, faz todo o sentido a parceria baseada na “filosofia do cuidado centrado na família”, em que a família é uma constante na vida da criança. Neste contexto, os cuidados na criança devem ser fundamentados na protecção, estímulo e amor, uma vez que os pais são os elementos fundamentais no suporte emocional e psicológico.
É de reforçar que os pais não são visitas, nem técnicos, mas parceiros no cuidado. Para que seja efectivo, é necessário que o enfermeiro desenvolva competências que possibilitem trabalhar em parceria com a família. Deste modo, o papel do enfermeiro é o de supervisão, intervindo se os cuidados forem especializados. Porém, são necessárias estratégias de apoio, com a finalidade de
envolver os pais nos cuidados, nas quais se dá o desenvolvimento da relação de ajuda na tríade criança, pais e enfermeiro.
A relação de ajuda entre pais e enfermeiros deverá ser sustentada nos conhecimentos e experiência vivenciada pelos pais, identificando modos de actuação e de suporte com a intenção de diminuir o stress sentido pelos mesmos perante uma situação de hospitalização. Para tal, são elementares a capacitação e o empoderamento da família, através da partilha de conhecimentos, das habilidades e dos recursos existentes, constituindo os princípios básicos dos cuidados centrados na família. Sendo que essa capacitação e empoderamento são essenciais perante a criança que vai ser submetida a uma cirurgia. É significativo que capacitação/empoderamento dos pais seja a preparação pré-operatória, em que a comunicação entre o enfermeiro e os pais constitui a chave de sucesso. A comunicação deve ser clara, objectiva, eficiente e dirigida sobre os procedimentos a que a criança irá ser submetida e o que poderá ser realizado para minimizar os efeitos dos mesmos.
Também contribui para uma comunicação de sucesso a atitude de não julgamento da família (nomeadamente, nas questões culturais), o respeito pelo conhecimento parental (por vezes, baseado na sua cultura), a valorização do papel que cumpre junto da criança, a redução da ansiedade e, evidentemente, o favorecimento de uma prestação de cuidados de modo singular.
Reforçando esta percepção, a Carta dos Direitos da Criança Hospitalizada, no seu número 4, assinala que a criança e os pais têm o direito de receber informação sobre a doença e os tratamentos adequada à sua idade e compreensão, a fim de poderem participar nas decisões que lhes dizem respeito. No seu número 8, assinala ainda que a equipa de saúde deve ter formação adequada para dar resposta às necessidades psicológicas e emocionais da criança e família.
É nesta perspectiva que, para cuidar da criança no pré-operatório, é importante o envolvimento da família, pois são os pais que melhor transmitem aos seus filhos a segurança e a informação de
acordo com a idade da criança, para que possa ultrapassar a ansiedade, o stress e a angústia provocadas quer pela hospitalização, quer pela posterior cirurgia. Para além da informação aos
pais (na consulta de enfermagem pré-operatória) sobre o processo cirúrgico, mais de “domínio técnico”, também é significativa a informação sobre as medidas não farmacológicas (de acordo com a idade da criança) que deverão ser utilizadas, como brincar, realizar actividades lúdicas (como desenho, jogos, dramatização recorrendo ao manuseamento de objectos como o estetoscópio, a seringa,
vestir uma bata do bloco), a consulta de livros/sites (de acordo com a idade da criança) de imagens do ambiente hospitalar (nomeadamente, o ambiente do bloco de operatório). Ou seja, articular cuidados antecipatórios com cuidados oportunistas, com enfoque na diminuição da ansiedade das crianças e dos pais sobre o processo cirúrgico e sobre o que esperar antes, durante e após a
cirurgia.
Um cuidado de enfermagem como preparação pré-operatória da criança, que envolve a família, respeitando as suas particularidades e singularidades de modo atempado, adequado
e de acordo com o tipo de cirurgia (segundo alguns autores) pode reduzir complicações pós-operatórias, o tempo de internamento e, por conseguinte, os custos em saúde.
A criança e os pais têm o direito de receber informação sobre a doença e os tratamentos adequada à sua idade e compreensão, a fim de poderem participar nas decisões que lhes dizem respeito